ripas de madeira

por Fernanda Dorta

A visão de que mulher não sabe trocar uma lâmpada ou bater um prego é uma ideia estritamente machista. Infelizmente a visão de mulher frágil ainda é um pensamento predominante em nossa cultura, mas aos poucos, com bastante reflexão e empoderamento essas crenças vão se dissolvendo e vamos criando novas possibilidades de mostrar que todas as áreas do trabalho estão além da questão de gênero e que a mulher é livre para manifestar sua expressão da forma que lhe couber.

A intenção deste post não é levantar a bandeira feminista, sobretudo, reconhecer que a mulher está em todos os espaços, desempenhando diferentes funções com bastante inteligência intelectual e emocional, inclusive, na área da arquitetura e da construção civil.

A construtora Priscilla Bourrus, moradora do Rio Vermelho, em Florianópolis, é um exemplo de determinação e gosto pelo trabalho mão na massa. Ela vem construindo sua casa junto com seu pai e com alguns pitacos do seu marido, que é chefe de cozinha. “Aqui em casa a gente sempre brincou ‘a mamãe dirige e o papai cozinha’. Comecei a construir por necessidade e participei ativamente de todas as etapas, até das mais pesadas. Cavei buracos, fiz concreto, carreguei tijolo, até os coloquei no lugar, coisa que nunca achei que fosse capaz de fazer”, afirma.

Na semana do Dia 8 de março, data em que o mundo reconhece as conquistas árduas das lutas femininas o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil homenageou a arquiteta Lina Bo Bardi, que representa inspiração para diversas arquitetas do país, não só por sua competência, mas por ser uma artista multifacetada. Ela atuou como ilustradora, cenógrafa, designer, escritora, curadora e artista visual. “Foi pioneira em vários desses espaços, abriu fronteiras para a participação política, intelectual e de oportunidades das mulheres no Brasil em um cenário em que o exercício da Arquitetura era quase exclusividade dos homens.”

IMG_0911“Ao meu ver, o que falta  no mercado da construção civil é o reconhecimento de que as mulheres são maioria nas universidades de arquitetura, de que as mulheres são tão importantes quanto o homens na função de projetar casas, administrar obras e até mesmo botar a mão na massa. Trazer consciência dessa igualdade é um ato político, devemos pensar nestas conquistas e construir um diálogo mais embasado nesta área da construção civil, ressalta a arquiteta Cecília Prompt.

Todo homem e toda mulher deveriam ser capazes de construir uma casa para si e sua família, usando a terra abaixo dos seus pés. (Nader Khalili)

Priscila lembra que muitas vezes ouviu de outras pessoas que estavam envolvidas na sua obra que nunca tinham visto uma menina pegando tão pesado. “Eu acho que como era a única mulher, dei muito duro pra provar que “estava altura” dos caras que trabalhavam aqui junto comigo (querendo ou não, esse e o mundo deles). Porque no inicio eles me olhavam como a dona chata que vai se meter em tudo.  Depois me falaram que eu era melhor do que muitos deles e que não perdia em nada por ser mulher. Vi muitos olhares de espanto e admiração”, expressa a construtora.

Mulher e Bioconstrução

A Biocontrução, que utiliza técnicas de construção natural, possui uma observação peculiar pelo interesse de mulheres nesta modalidade. “Não só no mercado de trabalho da arquitetura, mas também nos centros de referência em bioconstrução do Brasil e do Mundo, em  Ecovilas, em locais e movimentos aonde a Permacultura vêm se revelando, as mulheres  têm encontrado espaço para expressar suas habilidades, observa Cecília.

A participação das mulheres em oficinas e espaços educativos para aplicação de técnicas da biocontrução é um exemplo claro disso. Sempre aonde eu vou vejo a participação ativa das mulheres cada vez mais interessadas em planejar, construir e aprender técnicas construtivas.

Feminino + Masculino

O importante na reflexão deste post é lembrar que feminino e masculino são duas polaridades de energia que não estão associadas somente à questão de gênero (ser homem ou mulher) conforme dita nossa cultura. Todos nós temos essas duas polaridades em nós e claro, com características físicas distintas e habilidades mais desenvolvidas que as outras. O que realmente importa é que possamos trazer o equilíbrio dessas polaridades para nossa vida, desempenhando nossas funções pessoais, profissionais, familiares da melhor maneira possível.

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Bia, filha de Priscilla, inspirada na mãe

“A cada dia que passava eu estava mais forte, em todos os aspectos, física e mentalmente. Muitas vezes, minha filha não entendia porque eu vinha pra obra e o pai ficava em casa cuidando dela e da casa. Mostramos juntos que na nossa vida, a gente aproveita o que cada um tem de melhor. Mostramos pra ela que todo mundo pode fazer tudo, desde que isso nos faça feliz, complementa Priscilla.”