A construção natural, também chamada bioconstrução, busca a máxima integração do ambiente construído com o ambiente natural promovendo bem estar e saúde aos usuários. É uma ferramenta para a construção de ambientes sustentáveis.

Num ambiente planejado para a sustentabilidade, utilizamos os recursos para suprir as necessidades das gerações atuais sem comprometer os recursos para as gerações futuras. Além do mais, um ambiente sustentável proporciona maior qualidade de vida no momento presente.

Construindo habitações com critérios de bioconstrução estamos dando um grande passo rumo à sustentabilidade. Além do mais as casas bioconstruídas são mais confortáveis e mais saudáveis, além serem mais eficientes energeticamente.

A arquitetura bioconstruída conta com uma série de conceitos muito simples que, se incorporados ao projeto da casa, podem fazer muita diferença.

  1. O resgate da arquitetura popular

Com a industrialização dos materiais de construção, vem ocorrendo uma massificação das formas e dos sistemas construtivos. As pessoas estão condicionadas aos materiais disponíveis no mercado, e as grandes indústrias vendem a ideia de que somente com tijolos queimados e cimento podemos construir nossas casas.

Se olharmos para os nossos antepassados, podemos aprender muito. Sem a opção de materiais industrializados, antigamente as pessoas observavam o local e utilizavam os recursos disponíveis no meio ambiente: pedras, terra, madeira, palha. Além do mais, as pessoas estavam mais conectadas com a natureza, e planejavam casas mais adequadas ao clima e à paisagem.

A inspiração na arquitetura popular traz a possiblidade de se realizar uma releitura da mesma e da concepção de projetos com uma estética diferenciada, que alie o respeito às tradições as tecnologias tradicionais com uma linguagem contemporânea que utilize tecnologias atuais.

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Figura 1: Construção sobre palafitas na Amazônia

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Figura 2: Na Amazônia, releitura da arquitetura popular. Projeto Arq. Henrique Pinheiro.

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Figura 3: À esquerda casa Ainu, povo indígena do Japão. À direita casa caingangue: semelhança na sabedoria de adequar a arquitetura ao clima. A casa semi-enterrada é muito confortável. Fonte: Arquitetura Popular Brasileira, Gunter Weimer

  1. Uso de materiais locais e naturais:

Utilizando os materiais disponíveis no terreno estamos construindo edificações com o mínimo impacto ambiental. Se temos bastante pedras no terreno, devemos priorizar o uso deste material, seja para construir as fundações ou mesmo paredes. Se dispusermos de madeira, podemos utilizá-la para estruturar o telhado ou mesmo como estrutura principal da casa. A terra é um material de construção fantástico e abundante e muito versátil. Já em locais onde não dispomos de recursos no próprio terreno, devemos optar por materiais de menor impacto ambiental ou reciclados.

A construção civil é hoje uma das atividades que mais polui o meio ambiente. O gasto energético da produção de alguns materiais é muito alto, e 1/3 das emissões de gases causadores do efeito estufa são emitidos por atividades relacionadas ao meio construído. Utilizando materiais locais estaremos construindo com o mínimo impacto ambiental e nos apropriando de tecnologias, sem depender mais de grandes corporações ou da oferta do mercado.

4Figura 4: Construção com terra: parede de taipa de mão – trama horizontal com madeira de rejeito de madeireira.

  1. Considerar resíduos como recursos:

Em um ambiente sustentável nada vai fora. Sempre podemos utilizar os resíduos de um processo como recurso para novos processos, ciclando a energia. Quanto mais ciclos tivermos em nossa propriedade, mais sustentável ela será. Por exemplo, com a água: podemos coletar a água da chuva, utilizá-la em nossa casa, tratá-la e reutilizá-la para irrigação. Os nossos dejetos também podem ser tratados para virar adubo, e assim por diante. O importante é termos responsabilidade sobre os resíduos que produzimos.

5Figura 5: Fonte: Prompt, 2008.

É importante lembrar que a indústria da construção civil é uma das maiores responsáveis pela geração de lixo. Estudos recentes apontam para um número de 800kg/hab/ano de entulhos gerados pelas atividades da construção civil no meio urbano (Fonte: Conselho Brasileiro de Construções Sustentáveis).

  1. Construir de acordo com o clima local:

Com a padronização dos materiais de construção, e especialmente nos programas de habitação social, é construído o mesmo tipo de casa de norte a sul do país. Isto resulta em habitações desconfortáveis, pois o projeto não leva em consideração o clima local. A consequência disso é um enorme gasto energético com refrigeração (ar condicionado) e aquecimento das edificações, o que acaba por gerar um alto grau de poluição.

A arquitetura deve estar sempre adequada ao clima, independente do material utilizado na construção. Portanto, cada projeto deverá seguir as estratégias próprias para o local onde será implantado. Além do clima predominante da zona onde está inserido, devemos considerar o contexto próximo (presença de vizinhos, sombreamento, mais ou menos vegetação no entorno). Devemos observar o clima onde estamos inseridos para desta forma planejar a nossa casa da melhor forma possível, tirando o máximo de proveito das energias locais, como o vento e o sol, ou, se necessário, protegendo-nos delas.

6Figura 6: Fonte: Paty Cuenca, www.pintrest.com.

A imagem acima representa um sistema de aquecimento solar passivo com o uso de muro trombe. Um muro que seja capaz de armazenar calor fica localizado atrás de uma parede de vidro. No inverno, quando o sol incide desde um ângulo mais baixo, a edificação capta o calor através do muro e durante a noite o calor é liberado para dentro. No verão o sol mais alto não incide sobre as massas da edificação, e as esquadrias podem ser abertas.

Algumas das estratégias utilizadas na arquitetura bioclimática estão:

  1. Sombreamento de fachadas: em locais de muita incidência solar no verão, impede que o sol incida diretamente nas paredes, e desta forma o calor não é transmitido para o interior.
  2. Vedação da edificação: em locais onde o inverno é rigoroso, uma casa bem vedada impede a entrada de ventos e a saída do calor.
  3. Ventilação natural: a possibilidade de ventilação permite o resfriamento da casa, reduzindo a necessidade de uso de ventiladores e ar condicionado.
  4. Iluminação natural: também propicia a eficiência energética e a criação de ambientes mais agradáveis e saudáveis.

REFERÊNCIAS

PROMPT, Cecília. Curso de Bioconstrução. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável. Brasilia, 2008.

WEIMER, G. Arquitetura Popular Brasileira. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2005.